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terça-feira, agosto 24, 2004

Medo

Sobre o tédio
Sentou ao lado dela e começou a explicação: “... é que eu já tive algumas decepções e agora não quero mais me apaixonar”. Ela tragou o cigarro, olhou para ele e sorriu:
- Quantos anos você tem mesmo?
- 23
- Então eu devo te avisar: isso é só o começo.
Os dois então se calaram. Um em frente ao outro e tantas outras distâncias, muito mais que uma cadeira mais dois palmos entre um joelho e outro, e tantas coisinhas que precisavam ser entendidas, mas que não eram ditas porque nem tudo pode e deve soar pelos ares – até que ela arriscou e mandou:
- Vou te ligar um dia desses.
Ele fez cara de quem acha que aí já é demais, que aí já é muita interferência:
- É que eu não sou um bom partido.
- Quem disse que eu acho que você é um bom partido?
Ele riu do comentário e puxou a cadeira dela pra perto. Os joelhos se tocaram, mas as outras distâncias continuavam as mesmas. Ela fez que não entendeu, fez que esqueceu do que já sabe, jogou o cabelo pra trás e riu muito mesmo.
- Você ta bêbado!
Depois ela se cansou e deu uma olhada no relógio, e já era quase tempo de virar abóbora e perder o sapatinho.
- Ei, ei, tudo bem se eu te ligar? Ou você vai ficar tenso?
- Não vou ficar tenso. Tudo bem.
Ela levantou, rodeou a cadeira, chegou por trás dele e lhe segurou a cabeça. Deu um beijo na testa e ia dizer algo, mas decidiu não dizer nada. Catou a bolsa e foi embora, deixando ele lá sentadinho, no topo de seu monte de dúvidas, de seus 23 anos, de sua incerteza e de suas infinitas e assustadoras possibilidades.