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sexta-feira, agosto 27, 2004

A volta dos que não foram

Sobre o Cotidiano

Como todo festival de cinema que se presa, Gramado não fica restrito apenas à exibição de filmes e à mostra competitiva. Existe todo um clima rondando a premiação, um ar de Oscar dos trópicos que só quem freqüenta a festa pode levar a sério. O motivo de toda essa glamourização é provocada pelo grande número de celebridades que comparecem ao evento, é claro. Por isso, mais que marcar presença nas páginas dos cadernos culturais dos jornais, Gramado surge nos textos de fofoca. E quem nunca passou um os olhos por um texto de fofoca na vida que atire a primeira pedra.

O festival deste ano teve um toque a mais de babados. Estava indo tudo muito bem, muito certinho, dentro dos conformes, até que o presidente do júri da mostra competitiva Rubens Ewald Filho deu uma declaração infeliz ao Jornal do Brasil. E mesmo o Jornal do Brasil não sendo o que foi, como é de sabedoria popular, a declaração repercutiu por aí e acabou manchando o final do que parecia a festa perfeita.

Segundo Rubens Ewald Filho, a premiação de ‘Filhos do Vento’ foi meramente política, já que todos os atores eram negros e o Rio Grande do Sul seria um estado conhecido como racista. Não é preciso comentar o que foi dito pelo crítico de cinema, uma vez que é óbvia a infelicidade de suas palavras. O que se segue à declaração é que torna todo a seqüência de acontecimentos muito curiosa.

As palavras de Rubens Ewald foram recebidas da pior maneira possível pelo elenco do filme, que havia conquistado, ao todo, oito Kikitos. Em protesto, os atores do longa-metragem decidiram devolver seus prêmios ao júri, em uma atitude sem precedentes no Festival de Gramado.

Nesse ponto eu disse: uhu! Olha aí uma gente com atitude. Afinal de contas, devolver um Kikito, o maior prêmio do cinema brasileiro, não é para qualquer um. Mais que isso, só Woody Allen faltando ao Oscar para tocar jazz com a sua banda em Nova Iorque. Achei que, finalmente, nós poderíamos saborear um protesto legítimo, com um discurso consistente divulgado em carta aberta à imprensa, com todos os ingredientes que fariam da devolução dos troféus um ato inesquecível.

Só que logo depois eles voltaram atrás. Mantiveram a carta, mas resolveram não devolver os prêmios. Recebi a notícia da desistência do protesto com muita surpresa. Afinal de contas, melhor que ganhar um Kikito é dizer: ‘Olha, pode ficar. Assim eu não quero’.

Que falta que faz uma atitude punk, de vez em quando.

***
Depois de muito pensar sobre o tema, descobri a verdadeira razão de não participar de um reality show. Imagina ter que chamar a minha família pra torcer por mim quando eu estivesse para ser eliminada? Eles teriam que vestir aquelas camisas com escritos do tipo ‘Torcemos por você’, ou usariam perucas ruivas, ou fariam olheiras artificiais, criando algum tipo de marca registrada minha.
Não é nem comigo que eu me preocupo. É com eles. Eu nunca faria algo assim com os meus.