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quarta-feira, setembro 01, 2004

Laboratórios Clínicos

Sobre o Tédio Cotidiano
Talvez o lugar menos sexy do mundo seja o laboratório de exames clínicos, com todas aquelas amostras, secreções e explicações sobre como colher corretamente sua urina. Mesmo assim, quando chego na sala de espera de um desses lugares, percorro os olhos pelo ambiente à procura de rostos interessantes. É mais uma mania que uma esperança. Na verdade, é o resultado de todos esses anos de solteirice. A sorte é que apenas uma única vez eu vi um menino bonito – e, ainda bem, ele não me notou.

Foi na vez em que fui entregar a minha coleta de urina 24 horas. Dias antes, entregaram em minhas mãos um galão de dois litros com uma etiqueta nada sutil onde se lia COLETA DE URINA. Eu enfiei minha garrafa no saco plástico e saí correndo, para voltar dois dias depois com ela quase cheia, dentro de um novo saco plástico, tentando inutilmente camuflar o seu conteúdo.

Sem saber exatamente o que fazer com aquele elefante branco, coloquei o saco plástico e seu conteúdo em cima do balcão de atendimento. Uma recepcionista solícita e de sombra azul veio me acudir: ‘Coletou toda a urina das últimas 24h?’ Sim. ‘Desprezou o primeiro jato?’ Sim. ‘Precisou de recipiente extra?’ Não. A recepcionista de sombra azul ia perguntando como se fosse uma secretária eletrônica cumprindo os itens programados, ia questionando em um tom de voz muito acima do que aquele que me deixaria confortável, um tom suficientemente alto para que o resto dos pacientes – inclusive o menino bonitinho, que ainda estava ali – ouvissem.

Depois me sentei e esperei meu nome ser chamado. Sempre com o garrafão de xixi. Quando finalmente anunciaram minha vez e eu pude ouvir meu nome e sobrenome ecoando pela sala de espera, senti um certo alívio. Afinal, aquela série de desconfortos e pequenas gafes estava chegando ao fim, e eu poderia ter novamente as mãos livres para segurar um livro, ou acender um cigarro, ou arrumar o cabelo – para fazer qualquer coisa que não segurar o recipiente de coleta.

Mais um batalhão de perguntas do médico (eles são médicos? Aqueles que tiram sangue e pegam nossos exames de urina e fezes? Sempre fico na dúvida se devo chamá-los de doutor. Mas também, tenho uma mania complicada de querer chamar todo mundo de doutor ou doutora: a nutricionista, o psicólogo, o psicanalista, a pedagoga...), todas as perguntas referentes ao meu exame e todas perguntadas, mais uma vez, em um tom alto, e... eu estou livre. Vou até o bar tentar filar um daqueles lanches para quem tirou sangue, mas a balconista é pragmática: apenas quem doou tem direito a café com biscoitos. Saio de lá desolada. Depois de tudo isso, de todo esse constrangimento, o mínimo que eles podiam fazer era me oferecer uma rosquinha... e de chocolate, pra adoçar a minha vida, que anda amarga, amarga...

1 Comments:

Blogger Fernanda said...

e a pior coisa é aquele arzinho de normalidade total que as atendentes fazem quando perguntam se você desprezou o primeiro jato e depois pegam o seu potinho. não sabia desse blog (mas, viu, continuo por aqui:) e como disse o nosso chico: não se afobe, não, que nada é pra já.
mas já quanto ao email eu tinha te adicionado no msn antes de ler o aviso ali em cima. bem, sorry. um beijo.

3 de setembro de 2004 às 02:02

 

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