Vertigens
Sobre o tédio
Era como sentar no parapeito do mirante do Corcovado: aquela cidade inteira, azul, ao alcance dos braços e o frio na barriga, o temor da possível queda. Prazer e medo juntos, um atrapalhando o outro, ou o contrário, um tornando o outro ainda mais intenso.
Ela fez questão de sentar no parapeito do Cristo Redentor, fez questão de desafiar a própria sorte e os olhares preocupados de alguns turistas ingleses com valiosas câmeras digitais penduradas no pescoço. Ela sempre fazia questão de coisas assim, de ir ao limite dela e dos outros, de testar reações e situações. Queria experimentar cada segundo para ver se conseguia. E a verdade é que conseguia sempre, e aquele jogo já estava se tornando monótono.
Mas agora, sentada na beira na cama, no precipício do quarto, tinha medo e prazer, de novo. A tal combinação catastrófica. Às vezes pensava em abandonar o certo e se tornar mais uma vez uma pobre coitadinha, com histórias pra contar em mesas de centro de salas de estar. Outras vezes chorava com a própria sorte – apesar de não acreditar em sorte, mas em acasos encadeados e resultados previsíveis. Tudo meio matemática.
Há muito tempo não sentia isso. Tentou se recordar da última vez, mas só conseguia se lembrar do passeio ao Cristo Redentor e do dia em que sentiu uma tontura inexplicável e teve que se apoiar na banca de jornal. Estava calor e era meio-dia, e ela andava sozinha nem se lembra mais para onde, quando de repente, o chão rodou. E ela quase caiu no chão, mas alcançou as paredes de metal da banca, e tentou ligar para vários amigos pelo celular, mas não conseguiu falar com ninguém.
Agora, de novo, a sensação. Mas não estava mais sozinha, estava era com medo de ficar sozinha. Mais uma vez, tudo de novo. E de novo. E de novo.
2 Comments:
Nossa, sei bem o que é isso, tenho pânico de altura... Até escrevi um texto no blog sobre o assunto há uns anos, também fala sobre o Corcovado. Pra você ter uma idéia, só subi o Pão-de-Açúcar pela primeira vez este ano...
13 de setembro de 2004 às 10:16
Todos os extremos das sensações assustam mesmo, seja um intenso medo ou um enorme prazer, mas por que será que quando sentimos temos a necessidade de compartilhar com alguém?
Bruna, seu blog é ótimo, faz bem ler todos os dias...
bjos.
Rê
14 de setembro de 2004 às 00:33
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