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quarta-feira, setembro 15, 2004

Procurando emprego

Sobre o tédio cotidiano
Eu já li um livro do Lair Ribeiro. Um não, vários. Eu confesso que já li vários livros do Lair Ribeiro, do Paulo Coelho e do Sidney Sheldon, tudo isso na tenra e confusa idade de 13 anos. Eu lia muita coisa da pior qualidade. Mas hoje, ao ligar para uma empresa e pedir uma chance de mostrar o meu currículo, acabei lembrando de um ensinamento do Dr. Ribeiro.

Ele dizia que foi comprovado cientificamente que quando uma pessoa falava sorrindo ao telefone, isso transparecida de alguma maneira em sua voz, e tornava a conversa mais agradável para a pessoa do outro lado da linha. Inclusive, empresas de telemarketing adotaram essa técnica e conseguiram aumentar as vendas em não sei quantos por cento. Pois é. Em algum ponto do meu subconsciente, armazenei a informação e me peguei usando a manhã que seu Lair falou pra eu usar ao procurar emprego.

Não há nada mais constrangedor que ligar e oferecer o seu currículo. Como eu não sei fazer de outra maneira e estou à base de frilas desde novembro passado, me tornei uma expert no quesito ligar para desconhecidos e ser simpático. As conversas são sempre extremamente desconfortáveis, por mais que eu esteja me habituando a isso. E seguem da seguinte maneira:

Bruna: Bom dia, por favor, eu gostaria de falar com o fulano.
Pessoa: Quem gostaria?
B: É a Bruna.
P: Bruna de onde?
B: Sabe o que é, ele não me conhece. Eu sou jornalista, trabalho com produção de reportagem para TV, e queria saber se posso mostrar o meu currículo pra ele.

Nesse ponto, apresentam-se dois caminhos: ou me falam pra enviar o currículo por email, o que é mais comum, ou me passam para o fulano responsável. E quando me passam, nas raras ocasiões, eu tenho que me vender como a pessoa mais feliz, mais bem humorada do mundo (mesmo desempregada) e mais capacitada do planeta.

B: Oi, fulano. Tudo bem? Eu sou jornalista, sempre trabalhei com TV e agora estou procurando uma oportunidade em produtoras independentes. Trabalhei em blá blá blá por dois anos, mas agora busco blá blá blá. Será que eu poderia passar aí para conhecer a produtora e mostrar meu currículo pra você?

E aí, surpresa. Ele diz que sim, que eu posso ir, e eu vou cheia de esperanças no bolso, mas quando chego lá invariavelmente ouço ‘este não é o momento’. Outro dia achei que seria diferente, porque estava andando no meio do Largo do Machado e vi, no chão, um trevo de quatro folhas. Ainda olhei em volta pra ver se tinha um canteiro, mas não havia nenhum sinal de vegetação por perto, o que me fez interpretar a interferência bizarra como um sinal de sorte. Estufei o peito e entrei na sala da produtora com o currículo em punho e um sorriso impecavelmente branco. Mas de novo ouvi que aquele não era o momento e que um dia, quem sabe, entrariam em contato. Só espero que todo esse povo com quem eu venho falando nos últimos meses não resolva entrar em contato todos de uma vez só. Não restaria espaço na minha agenda.

1 Comments:

Blogger Barbara said...

Ô menina, é claro que esse não é o momento! Experimenta se oferecer para "trabalhar", e não para "ganhar um emprego". Garanto que funciona (pelo menos para mim, hehehe)
Segunda coisa: quando perguntarem de onde, diz que é da Globo, ou melhor ainda: manda um "da Forbes" ou "da Newsweek", com voz de tédio. Isso eu nunca fiz e não garanto, mas acho que deve funcionar.

16 de setembro de 2004 às 07:44

 

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