Três tipos de texto para brincar. Três possibilidades de (des)agradar possíveis leitores. Para comentar ou para jogar na lama: brunapaixao@hotmail.com. Mas não para colocar no MSN, please

segunda-feira, setembro 20, 2004

Rumo a Columbine

Sobre o cotidiano
Na semana passada, o Jornal Nacional exibiu reportagem que mostrava como o Rio Grande do Sul vem combatendo o tráfico de drogas dentro das escolas públicas gaúchas: policiais revistam alunos e cães farejadores metem o nariz nas mochilas dos moleques em busca de drogas e armas. Até em algumas escolas particulares esse procedimento tem sido adotado. Uma diretora chegou a falar que depois que colocaram a polícia no meio da história, gangues pararam de rondar o colégio e alunos que eram considerados mini traficantes foram expulsos.

Imediatamente lembrei do filme ‘Elefante’, especificamente da cena em que aquele garoto lourinho leva uma bronca do diretor porque chegou atrasado de novo. Acontece que o garoto lourinho tinha chegado atrasado porque o pai dele estava bêbado demais pra conseguir leva-lo até o colégio, e o menino foi obrigado cuidar do pai antes de poder entrar na escola.

Da mesma forma que o diretor de ‘Elefante’ não quis saber por que o garoto lourinho chegou atrasado, a diretora do colégio de RS não está interessada em buscar explicações para a tendência à bandidagem do seu aluno mini traficante. O que ela quer é que ele suma da frente dela e pare de trazer problemas à escola, que pare de interferir na vida dos outros adolescentes que podem se tornar pessoas bem sucedidas. Vencedores.

‘Que injustiça’, foi o que eu pensei. Não porque o menino traficante deva receber alguma espécie de prêmio, mas porque, ao ser expulso da escola, ele foi praticamente condenado a ser promovido dentro do mundo do tráfico: de avião a soldado, de soldado a gerente, de gerente a dono da boca – ou seja lá como funcionam as bocas de fumo do Rio Grande do Sul.

Será que sou só eu (que realmente ando sentimental demais com questões sociais) que achou uma sacanagem abandonar o vendedor de maconha à própria sorte? Bom, depois eu constatei que não. Em entrevista à repórter, um educador disse que a escola não pode simplesmente deixar uma criança problemática pra lá, que o dever da instituição de ensino é formar uma pessoa em todos os sentidos, não só para passar no vestibular.

Assim como é nos Estados Unidos, onde o que conta é a popularidade e a futura fama e fortuna de cada aluno, o Brasil parece que está querendo também formar legiões de pessoas perfeitas, sem problemas e prontas para o mundo de faz de conta. Só espero que caia a ficha na cabeça dos pedagogos gaúchos de que esse modelo americano não gera vencedores, mas serial killers e anoréxicas.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

concordo com a analogia. existe vida fora do padrão típico propagado implicitamente em tudo quanto é canto. da tv aos cinemas, passando pelos shopping centers e outdoors pelas cidades. eu tenho cada vez teorias doidas sobre essas coisas, mas às vezes é melhor deixar quieto... ontei eu li uma matéria muito maneira no site da revista cult, na qual quem escreveu o texto pega padrões do início do século passado pelo viés da literatura até sugerir os padrões de hoje.

21 de setembro de 2004 às 09:40

 
Anonymous Anônimo said...

esse sistema também atrai os terroristas neh?!
o brasil está numa canoa furada e não quer tampar o furo, está indo (e já está quase) no fundo do pacífico, atlântico...onde mais quiser e poder.
Hugo - www.vida_sem_sentido.blogger.com.br

22 de setembro de 2004 às 08:39

 

Postar um comentário

<< Home